Eu nunca investiria em um fundo que aceitasse meu dinheiro

Não sou rico ou famoso. Não tenho bilhões para investir, não tenho contatos com famosos ou bilionários. Já me sentei em reuniões com um punhado de bilionários ao longo da minha carreira, mas creio que nenhum deles lembraria meu nome de primeira. Com certeza não ligariam para mim, se precisassem de um favor ou de um conselho.

É comum que esses bilionários e seus amigos invistam em fundos sofisticadíssimos, comandados por gestores renomados, especialistas nos mais exóticos tipos de investimento. Naturalmente, é um símbolo de status conseguir investir nesses fundos, afinal, mostra, sem sombra de dúvidas que você é um investidor sofisticado, que tem em sua carteira as estratégias mais sofisticadas e inteligentes, e que você tem dinheiro e influência para colocar os gestores mais qualificados para trabalhar para você. Há alguns anos, poucas coisas no mercado financeiro diriam mais sobre sua esperteza e seu prestígio do que dizer tenho dinheiro no fundo Verde do Stuhlberger.

O Verde — o original, não outros fundos da gestora — era provavelmente o fundo mais desejado do Brasil, em grande parte pelos retornos extraordinários que trouxe a seus cotistas, mas também pelo fato de que ele está quase sempre fechado para captação de novos recursos. Na maior parte do tempo, não importa quem você é, ou quanto dinheiro você tem, o Verde não aceita o seu dinheiro. Isso é verdade para quase todos os fundos bem sucedidos, pois há mais gente querendo entrar no fundo do que capacidade para gerir mais ativos com bons retornos. Isto ocorre não apenas no Brasil, mas um dos fundos mais desejados do mundo, o Medallion Fund, fundado por Jim Simons, não apenas não recebe aportes, como devolve dinheiro aos cotistas com frequência para manter o fundo com cerca de US$ 10 bilhões em ativos. Há uma capacidade limitada de dinheiro que pode ser gerida com eficiência e o espaço nesses fundos é disputado ferozmente.

Para os gestores, obviamente é um símbolo de status ser capaz de atrair investidores com prestígio, o chamado smart money. Esse tipo de investidor não traz apenas seu dinheiro, mas também uma rede de contatos e uma boa dose de reputação. É muito mais fácil captar dinheiro cobrando uma remuneração gorda quando você tem como troféu um grande nome entre seus cotistas, afinal, você não gostaria de investir no mesmo fundo que Jorge Paulo Lehman, ou de famílias com sobrenome de peso como Safra, Ermírio de Morais, Villela? Em grande parte, a campanha de marketing de Bernie Madoff para seu esquema de pirâmide se baseava em mostrar retornos estáveis acima do mercado e em ter investidores de renome, dentro de Wall Street e também atores, filantropos.

Sendo assim, eu nunca investiria num fundo que aceitasse meu dinheiro. Não tenho smart money para oferecer, não conheço grandes investidores para indicar, não tenho influência com outros gestores para trazer ideias novas de investimentos, nem tenho milhões de seguidores nas redes sociais sedentos para imitar minha carteira de fundos sofisticados. Em resumo, não tenho nada a oferecer ao fundo além do pagamento de taxas para os gestores e intermediários.

No fim, é isso que sobra para a maioria dos investidores individuais de fundos ativos que tentam bater o mercado: taxas. Tentando imitar os donos do smart money, no lugar de fama e riqueza, acabam pagando muito para ter retornos decepcionantes, que raramente correspondem aos riscos que correm. John Bogle, criador da Vanguard e responsável por popularizar fundos de baixo custo afirmava com sabedoria que, nos investimentos, você fica com aquilo pelo que você não paga.

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